
Para Félix Guattari, um dos idealizadores da esquizoanálise, enfrentar os problemas complexos do capitalismo tardio envolve adotar uma atitude filosófica e uma abordagem política que deem conta da fugacidade desordenada desse sistema. Se o discurso capitalista insiste na “molaridade” dos fenômenos, operando por processos rígidos de unificação ou binarização conceitual, Guattari declara que a revolução anticapitalista deverá ser “molecular”, isto é, uma revolução que flua em várias direções ao mesmo tempo, operando em múltiplos níveis de forma dinâmica e mutável, a fim de combater o capitalismo no nível da própria existência.
Ao longo dos vários ensaios curtos que perfazem o livro, Guattari discute temas como a politização da psicoterapia; o agenciamento de potências a partir da associação entre teoria e prática; a descentralização dos processos de repressão e resistência; a micropolítica do fascismo; a renovação da psicanálise; a desterritorialização dos processos de produção; e os desafios que se apresentam para a economia do desejo, hoje incompatível com o ritmo do progresso técnico-científico.
Para integrar o movimento do desejo ao fluxo da história, será necessária “uma profunda transformação das relações sociais em todos os níveis, um imenso movimento de ‘retomada’ das máquinas técnicas pelas máquinas desejantes, o que o denomino uma ‘revolução molecular’”.