Dois universos estéticos distantes, a fotografia e a poesia, são aqui conectados pela sensibilidade e erudição do poeta, crítico e curador Adolfo Montejo Navas, que mereceu pelo ensaio o prêmio Marc Ferrez de Fotografia em 2015, na categoria Reflexão Crítica.
Com uma análise refinada, o autor vai traçando afinidades eletivas, alianças e reverberações, evidenciando diálogos, conceitos e referências poéticas entre esses dois universos. De um lado, encontramos a fotografia, linguagem que influenciou e influencia de maneira marcante a contemporaneidade; de outro, a poesia, em certo sentido uma “relíquia” em nossos tempos, mas que continua a inspirar a humanidade desde a Antiguidade. Nessa cartografia fronteiriça a imagem se destaca como matriz comum, uma defesa expandida da poiesis como linguagem da criação inaugural.
Ao percorrer a fotografia do século XX, o crítico trata das inescapáveis questões contemporâneas que essa linguagem traz, como seu permanente processo de transformação por sucessivas inovações técnicas, em especial a mais recente revolução digital. Falar da fotografia hoje é falar de um momento em que já não cabem classificações taxativas – esvai-se cada vez mais a distinção entre fotógrafos e artistas que utilizam a fotografia, por exemplo. Já a poesia é vista aqui não como sinônimo de poema, mas sim como uma forma particular de conhecimento.
Parte do virtuoso trabalho do autor é alinhavar uma pluralidade de referências e de olhares de modo a ampliar as percepções do leitor em relação às duas formas artísticas. No final, o livro traz um encarte impresso em 4 cores, com “24 poéticas”: Montejo Navas apresenta perfis e obras de 24 artistas, que vão desde os artistas contemporâneos brasileiros Rodrigo Braga e Paulo Bruscky até nomes consagrados mundialmente como Robert Frank e Man Ray.